“Vinde a Mim
todos os que andais cansados e oprimidos.”
Mt 11, 28
A vida é para acolher
Estes dias de sol radioso, cheios de uma luz que convida a saborear a beleza que nos rodeia, são um já um convite a férias. E lembro o que há dias uns tios meus me contavam sobre a vida dura do campo de há 40 anos, quando na ceifa se trabalhava do nascer ao pôr do sol e o único dia em que se descansava era o do “Corpo de Deus”.
O que será a vida de tantos que neste mundo tão diverso e injusto desconhecem essa palavra “mágica” que evoca algumas saudades do paraíso? É verdade que o relato da criação proclama esse descanso semanal (tão impossível para muitos e tão desperdiçado por outros tantos!), dia de louvor e contemplação, dia de comunhão com os outros e de projecto de novos sonhos, mas quantos o conseguem saborear?
As férias surgem então como um tempo de re-criação. Um tempo que, para muitos é um “dolce fare niente”, um tempo livre mas que tantas vezes se torna ocasião de novas “escravidões” quando a moda ou a publicidade absorvem o tempo do encontro consigo próprio e com os outros. Que o cansaço pede descanso é algo que o ritmo diário bem lembra. Mas existem muitas formas de descanso e a mais bela é a de quem criou e sonha novas criações. Um descanso que permite agradecer tudo o que enche a nossa vida. Aquele descanso que produz harmonia e paz, o descanso de quem se sente abraçado, aquele que é feito do acolhimento de inúmeras coisas simples que já esquecemos como são importantes!
Jesus vive um constante acolhimento. Hoje quase nos diz que Ele é também o “subsídio de férias” dos discípulos. A promessa de alívio aos que andam cansados e atribulados tem a sua raiz nessa paz que só Ele consegue dar. A paz que tem nome de perdão, e também de alegria, de aconchego, de esperança e de futuro. Sim, não temos férias só por causa do passado, nem para fazer tudo o que não pôde ser feito. Aprendo com Jesus que esse tempo de libertação está, principalmente, orientado para o futuro. Porque a mansidão e humildade de coração são condições para viver o tempo de um modo mais salvo. Viver o tempo com o sabor da eternidade, com a espantosa grandeza que cada momento encerra. E para isso é preciso praticar o acolhimento, abrir largamente os braços e abraçar tudo o que está cheio de vida.
Que vamos fazer das nossas férias? E os que as não têm, o que podemos fazer por eles? Que qualidade de acolhimento podemos projectar, pessoal e comunitariamente, ou será que também as nossas paróquias “vão de férias”? E ir de férias é desvalorizar o quotidiano em troca do extraordinário?
P. Vítor Gonçalves
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